terça-feira, 13 de outubro de 2009

OCântico da terra


Eu sou a terra,

eu sou a vida.

Do meu barro primeiro veio o homem.

De mim veio a mulher e veio o amor.

Veio a árvore, veio a fonte.

Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.

Sou o chão que se prende à tua casa.

Sou a telha da coberta de teu lar.

A mina constante de teu poço.

Sou a espiga generosa de teu gado

e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.

De mim vieste pela mão do Criador,

e a mim tu voltarás no fim da lida.

Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.

Tua filha, tua noiva e desposada.

A mulher e o ventre que fecundas.

Sou a gleba, a gestação,

eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.

Teu arado, tua foice, teu machado.

O berço pequenino de teu filho.

O algodão de tua veste e o pão de tua casa.

E um dia bem distante a mim tu voltarás.

E no canteiro materno de meu seio tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça. Lavremos a gleba.

Cuidemos do ninho, do gado e da tulha.

Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos.


Cora Coralina

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